No Cerrado brasileiro é possível observar na primavera um fenômeno, chamado de “cupinzeiros luminosos”, em que ninhos de cupins irradiam uma luz esverdeada intensa, para atrair suas presas.
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus de Sorocaba, constatou que esses cupinzeiros luminosos também ocorrem no interior da floresta amazônica.O artigo foi publicado na Annals of the Entomological Society of America.
“Até então só havia relatos de bioluminescência [emissão de luz fria e visível por organismos vivos] em cavernas na Nova Zelândia e na Austrália, onde larvas de uma espécie de mosquito luminescente constroem teias no teto de grutas”, disse Vadim Viviani, professor da UFSCar e coordenador do estudo, à Agência FAPESP.
“É a primeira vez que é relatada a ocorrência de larvas luminescentes de vagalumes no interior de cavernas no mundo”, disse Viviani, que acabou de ser eleito o novo presidente da International Society for Bioluminescence and Chemiluminescence (ISBC) durante o último simpósio anual da entidade, realizado entre os dias 29 de maio e 2 de junho em Tsukuba, no Japão.
O que se sabe é que vagalumes adultos colocam ovos na base dos cupinzeiros e no interior de cavernas e que, ao eclodir, dão origem a centenas de larvas luminescentes que transformam esses ambientes em seus habitats.
A explicação mais provável, contudo, é que como as larvas de outras espécies do gênero Pyrearinus são normalmente encontradas em troncos em decomposição ou no solo e são carnívoras, a associação com cupinzeiro foi uma adaptação vantajosa, pois esses lugares são ricos em cupins e outros insetos pequenos que lhes servem de alimento.
Segundo o pesquisador, a intensidade da luminescência esverdeada emitida pelas larvas de vagalumes luminescentes encontradas nas cavernas de canga aparentemente é mais fraca do que a de seus parentes próximos, encontrados em cupinzeiros superficiais que, no Cerrado, podem atingir 1,7 metro (m).
Ao contrário dos vagalumes lampirídeos, que geralmente ocorrem em campo aberto e emitem flashes intensos de luz, as larvas luminescente de vagalumes encontradas em cupinzeiros e em cavernas argilosas – que pertencem à família dos elaterídeos, conhecidos popularmente como vagalumes tec-tec ou salta-martins – emitem luz muito intensa e contínua, comparou Viviani.
Aplicações biotecnológicas
Além do ecossistema, a bioluminescência apresentada por essas espécies de vagalumes que habitam cupinzeiros e cavernas também pode trazer benefícios para a sociedade por meio de enzimas luminescentes (luciferases) e seus substratos (luciferina) que são amplamente utilizados como reagentes bioanalíticos e marcadores celulares em biossensores de poluição e prospecção de drogas anticancerígenas e antibióticos, entre uma vastíssima gama de outras aplicações, apontou o pesquisador.
No último simpósio anual da International Society for Bioluminescence and Chemiluminescence (ISBC), a estudante Gabriele Verônica de Mello Gabriel, que atualmente faz doutorado sob orientação de Viviani e um estágio de pesquisa no National Institute of Advanced Industrial Science and Technology em Tsukuba, no Japão, com Bolsa da FAPESP, obteve uma menção honrosa por sua pesquisa com biossensores luminescentes de pH e metais pesados que mudam de cor de acordo com esses fatores.
Fonte: Agência Fapesp