IDEC – Alerta vermelho na alimentação escolar

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Atenção pais e responsáveis – o IDEC tem uma mensagem importante sobre a merenda escolar. Abaixo o conteúdo do boletim “Tá na Mesa”.

 

Todo mundo sabe que é possível acompanhar o desempenho escolar das crianças por meio dos boletins, reuniões de responsáveis e cadernos das matérias. Mas e o entorno do ambiente escolar, sabemos como é? Como podemos acompanhar o que está sendo oferecido para a alimentação das crianças e adolescentes?
Hoje vamos compartilhar os resultados do estudo Comercialização nas Escolas Brasileiras (Caeb) e apontar uma questão que precisa da nossa máxima atenção: cerca de 30%* das crianças e adolescentes no Brasil estão com excesso de peso e o ambiente escolar não deveria expor produtos nocivos à saúde deles.
*dados do Sistema Único de Saúde (SUS).
Recentemente, contamos a enganosidade de uma marca de biscoitos vendendo saudabilidade quando era um ultraprocessado, e, na mesma edição, falamos sobre como montar e mandar de casa alimentos saudáveis para a lancheira das crianças.
E hoje é dia de apresentar os dados do estudo sobre a Comercialização nas Escolas Brasileiras (Caeb) realizado entre 2022 e 2024.
O objetivo dessa pesquisa é avaliar o ambiente alimentar das escolas privadas, já que os alunos das escolas públicas estão um pouco mais protegidos pelas diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e também para criar propostas que contribuam para hábitos alimentares mais saudáveis entre os estudantes.
Coordenado por um grupo de pesquisadores vinculados a seis universidades públicas brasileiras, o estudo foi idealizado pelo Idec junto a esses pesquisadores e contou com o apoio da ACT Promoção da Saúde, do Instituto Ibirapitanga e do Instituto Desiderata.
Ao longo de dois anos foram analisadas 2.241 cantinas em todo país. E alguns resultados acionam as bandeiras vermelhas.
O número de produtos ultraprocessados comercializados, incluindo preparações à base desses produtos, é 50% superior ao de alimentos saudáveis.
Entre eles, o refrigerante é o mais comum, encontrado em 61,80% desses espaços.
O ranking de produtos comercializados é seguido por: salgados assados com recheios ultraprocessados (tipo: presunto, salsicha etc.) bombons, chocolates e salgadinhos de pacote (chips).
Ela também identificou que a maior disponibilidade de ultraprocessados no ambiente escolar resulta em maior exposição das crianças a esses produtos, o que pode influenciar suas escolhas alimentares nos intervalos das aulas.
A pesquisa conseguiu identificar quais são as causas desse maior consumo de ultraprocessados em relação aos alimentos in natura ou minimamente processados nos intervalos da escola:
• Existe uma maior disponibilidade de ultraprocessados, o que gera maior consumo, logo, as crianças passam a ter contato facilitado com esse tipo de produto.
• O ambiente alimentar dentro das escolas está repleto de banners do fornecedor, ou uma foto de réplica do produto, cardápio, embalagem, televisão, display, brindes voltados ao incentivo do consumo de ultraprocessados.
• A pesquisa mostrou que 23,47% das cantinas analisadas oferecem combos promocionais. Ou seja, bebidas adoçadas, como refrigerantes e achocolatados, acompanhadas de salgados são oferecidas a valores mais baixos, que acabam atraindo a compra dos estudantes. A cidade de Curitiba ficou em primeiro lugar, com 76,54% dos estabelecimentos utilizando essa estratégia.
Essa é uma faixa etária que não tem discernimento e estrutura cognitiva para lidar com a publicidade.
O envolvimento de pais e responsáveis junto a organizações da sociedade civil é fundamental para melhorar a alimentação no ambiente escolar.
Vamos resgatar um dado fornecido lá em cima: atualmente, cerca de 30% das crianças e adolescentes estão com excesso de peso no Brasil conforme dados do SUS.
Segundo a Larissa Loures, professora do curso de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora da pesquisa, uma alimentação baseada na ingestão frequente desses produtos repletos de açúcar e de aditivos é muito prejudicial.
Essa é uma idade em que as crianças deveriam ter o direito de consumir alimentos saudáveis.
São os adultos responsáveis por fornecer bons alimentos e refeições equilibradas e de cobrar que haja a regulamentação desses espaços, pois as cantinas podem ser úteis para gerar recursos interdisciplinares para as atividades escolares.
A rede pública de ensino conta com o PNAE, que limita a compra de processados e ultraprocessados a 15% do seu orçamento e, a partir de 2026, deve ser reduzido para 10%, além de proibir a aquisição de refrigerante, refresco, entre outros.
Já a rede privada não tem qualquer legislação nacional sobre a comercialização de produtos ultraprocessados.
Há propostas em forma de projetos de lei (PL) que tramitam pela Câmara, além de algumas iniciativas locais em execução, mas não com a urgência, a dimensão e a eficiência que o assunto pede.
Está aguardando para seguir em tramitação o PL nº 4.501/2020 que determina que as cantinas escolares ofereçam para consumo, diariamente, no mínimo, três opções de lanches saudáveis, que contribuam positivamente para a saúde dos escolares, que valorizem a cultura alimentar local e que derivem de práticas produtivas ambientalmente sustentáveis.
O projeto também proíbe a comercialização, a propaganda, a publicidade e a promoção no ambiente escolar, de alimentos e bebidas ultraprocessados, preparações à base de frituras e de preparações com a adição de gordura hidrogenada em seu preparo.
Isso é só um recorte do quanto é muito sério o que está acontecendo nas escolas do país.
A saúde das crianças, que serão futuros adultos, é uma responsabilidade de todos, é sobre bem-estar e sobre o impacto direto no custeio da saúde pública.
Por isso, junte-se a nós nessa luta pela regulamentação da comercialização de alimentos nas escolas.
Desenvolvemos uma proposta de um modelo de Projeto de Lei para que qualquer pessoa possa apresentar a gestores municipais para adotarem políticas públicas sobre esse tema.
O PL Modelo para escolas é um meio prático para transformar as escolas públicas e privadas do Brasil em um ambiente escolar promotor da alimentação adequada e saudável para todas as crianças brasileiras, tendo como base o Guia Alimentar para a População Brasileira. Então baixe aqui o modelo e cobre os seus representantes!
É preciso apoiar o trabalho de organizações, pressionar os tomadores de decisão e conversar nas instituições públicas e privadas para que as crianças e adolescentes possam se alimentar com comida de verdade, feita de alimentos in natura.
Se você tem curiosidade em saber outras informações da pesquisa, clique aqui para ter acesso completo ao Caeb e apoie esse trabalho pelo direito das crianças e adolescentes.