Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revela que a água subterrânea do Rio Doce está contaminada por altos índices de metais pesados.
Coordenada pelo professor João Paulo Machado Torres, do Instituto de Biofísica da UFRJ, a equipe de pesquisadores analisou a presença de metais pesados na água em três pontos diferentes da bacia do Rio Doce: Belo Oriente (MG), Governador Valadares (MG) e Colatina (ES).
Segundo o estudo, Belo Oriente apresentou cinco pontos de coleta com níveis de ferro e manganês acima do permitido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Dos 16 pontos testados em Governador Valadares, 12 estão com altos índices das substâncias. E em Colatina, foram encontrados 10 pontos.
Após o rompimento da barragem de Fundão, que contaminou a bacia do Rio Doce em novembro de 2015, agricultores familiares têm utilizado as águas subterrâneas para irrigarem as plantações e para consumo próprio, sem saberem que o recurso está com altos níveis de ferro e manganês.
Com o uso do recurso contaminado, os minérios causam problemas de saúde no longo prazo, considerando as altas doses a que as pessoas estão expostas. O manganês pode causar problemas neurológicos, como a Síndrome de Parkinson, e o ferro provoca problemas enzimáticos que danificam os rins, fígado e o sistema digestivo.
“Os resultados não são animadores. É preocupante a falta de informação das autoridades em relação a questões fundamentais para a saúde da população”, afirma Fabiana Alves, da Campanha de Água do Greenpeace.
A curto prazo, a agricultura tem sido a principal atingida. Antes de romper a barragem, 98% dos entrevistados utilizavam água do Rio Doce para atividade econômicas do dia-a-dia. Após o desastre, apenas 36% continuam utilizando a mesma água. Destes, 87% utilizam a água para irrigação.
Quase 60% consideram a água imprópria para uso, o que demonstra as incertezas e falta de informação que ameaça o direito das populações que vivem à beira do rio.
Cerca de 88% dos entrevistados alteraram o tipo de cultivo e/ou a criação realizada pela família após a tragédia. “É uma água de péssima qualidade, com gosto e cheiro ruins, que inviabiliza o plantio de muitas espécies. Elas morrem logo após as regas ou não se desenvolvem bem”, explicou o pesquisador André Pinheiro de Almeida.
Segundo o pesquisador, muitos agricultores têm passado dificuldades financeiras. Alguns abandonaram as suas terras, porque não conseguem mais produzir com o solo e a água que têm.
O estudo “Contaminação por metais pesados na água utilizada por agricultores familiares na Região do Rio Doce”, é fruto da parceria entre o projeto Rio de Gente e o Greenpeace. O objetivo foi avaliar se os agricultores ainda têm condições de plantar com água limpa.
O documento está disponível na íntegra em: http://www.greenpeace.org.br/
** Com informações do Greenpeace