Jornais europeus fazem mapa de contaminação por “poluentes eternos”

(Foto: Pixabay)
Um consórcio de jornais europeus realizou uma investigação sobre os “poluentes eternos” que revelou que os países da Europa estão em grande escala poluídos. A pesquisa inédita mapeou mais de 2.000 hotspots que, até o momento, não tinham sido catalogados.
Matéria da jornalista Ana Carolina Peliz, da RFI, destaca que existem mais de 4.700 diferentes produtos com químicos PFAS no mercado atualmente, fazendo com que esta seja a substância sintética mais fácil de se encontrar no mundo.
Desde então, elas são usadas de maneira intensiva, principalmente na fabricação de produtos antiaderentes, impermeáveis ou resistentes a manchas. Os PFAs estão presentes em roupas, tapetes, ceras para piso, panelas antiaderentes, embalagens a prova de gordura —como as dos fast-foods e de embalagens longa vida — e até no fio dental e em alguns cosméticos.
Para ter uma ideia da extensão da poluição por estas substâncias, o consórcio de jornalistas “Forever Pollution”, que engloba 18 veículos de comunicação europeus, realizou uma investigação inédita que mapeou a presença dos PFAs na Europa. A pesquisa revelou que o continente está massivamente contaminado por estes poluentes eternos.
O consórcio de jornalistas recompilou informações de pesquisas sobre a contaminação pelos PFAs em países como França, Espanha, Inglaterra, Alemanha e Grécia.
Após quase um ano de trabalho, os jornalistas descobriram que a Europa tem 17 mil áreas onde a poluição pelos químicos alcança níveis preocupantes. Em 2.100 destes focos, os níveis são perigosos para a saúde humana, de acordo com especialistas que participaram da pesquisa.
Alguns destes locais estão ao lado de vinte fábricas de produção de PFAs localizadas pela investigação do consórcio, que até então não tinham sido catalogados.
“O que é chocante é que o problema dos PFAs foi revelado no final dos anos 1990, nos Estados Unidos, devido ao caso de uma fábrica que produzia teflon e que poluiu o meio ambiente”, diz Stéphane Horel. “Temos na França uma usina Tefal, que fabrica o teflon, e nunca passou pela cabeça das autoridades testar a água em volta da fábrica, para saber se existia o PFOA, o PFAs que era utilizado até pouco tempo para fabricar o teflon. A primeira vez que isso foi feito foi em janeiro de 2022”, lamenta a jornalista.
Um dos grandes problemas dos PFAs é que a contaminação gerada por estes químicos não se concentra apenas em áreas onde estão localizadas as indústrias produtoras. Uma vez liberados no meio ambiente, as moléculas são transportadas facilmente pela água e poluem lugares distantes do foco original. Outro problema destacado por Stéphane Horel é a desinformação sobre o assunto.
“Isso que é impressionante com os PFAS. Estamos no meio de uma catástrofe, mas a maioria das pessoas nunca ouviu falar. É como se descobríssemos o problema dos agrotóxicos no estado que estamos atualmente, mas sem termos passado por todas as etapas anteriores”, diz. “Acho que é um choque para a opinião pública descobrir estas substâncias que são realmente desconhecidas. Além disso, o nome delas é complexo e não ajuda na compreensão do assunto”, completa.
Impacto da investigação
A União Europeia abriu uma consulta pública em 22 de março sobre o assunto, e em 7 de fevereiro a Agência Europeia de Produtos Químicos (Echa) divulgou um projeto para proibir todos os PFAs, no que poderia se transformar na mais vasta regulamentação da indústria química europeia.