Rede Origens Brasil® realiza Comitê Territorial para fortalecer a diversidade amazônica em prol da economia da floresta em pé

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Pela primeira vez, a rede Origens Brasil, em sua estrutura de governança, agregou em uma única reunião, com o intuito de incentivar a construção conjunta de soluções para as cadeias produtivas da sociobiodiversidade na Amazônia, os seis comitês territoriais da rede. Os encontros, que aconteceram em novembro, contaram com a participação de mais de 40 pessoas, representantes dos seis territórios de atuação da rede: Xingu, Norte do Pará, Rio Negro, Solimões, Tupi Guaporé e Calha do Purus. Foram realizados diversos diálogos sobre experiências e os modelos de organização para a realização de comércio ético entre os produtores tradicionais.
“Esse momento é uma conquista, porque se trata de um encontro da Amazônia”, relatou Chicoepab Paiter Suruí, presidente da organização comunitária Wagoh Pakob. Diretamente da Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, o líder indígena celebra a importância de um grupo formado pelos povos da floresta e vive diariamente os desafios locais.
Atualmente, a rede conta com a participação de mais de 4 mil produtores, entre quilombolas, extrativistas, manejadores de pirarucu e indígenas, de 76 etnias, alcançando mais de 23 mil beneficiários, guardiões da floresta. A geração de renda para as comunidades tradicionais é um dos indicadores de impacto que mobiliza as tomadas de decisões, esses recursos fortalecem a manutenção de suas culturas e os serviços ambientais prestados para a sociedade, como a proteção e vigilância das Áreas Protegidas.
“A gente cria soluções para cada um dos contextos, para cada uma das realidades dos povos, dos territórios”, explica Adriano Jerozolimski, assessor técnico da Associação Floresta Protegida, durante o comitê. Uma das soluções criadas recentemente foi a inserção da Castanha Kayapó na gôndola Floresta Faz Bem, do mercado Carrefour, membro da rede.
Nesse caso, a Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta – Coobay, articulou  com o Instituto Kabu, para trabalhar com a marca unificada. “Em vez de ter esforços duplos, duas marcas de castanha Kayapó, a gente resolveu unir esforços e trabalhar numa mesma identidade visual, uma mesma marca, uma mesma estratégia comercial”, explicou Adriano. A Castanha Kayapó chegou a ser o produto mais vendido da gôndola no Carrefour e segue com planos de inserção em outros grandes mercados.
A borracha nativa da Terra do Meio também é um produto com história e valorização dos seringueiros tradicionais. Em 2008, a Rede Terra do Meio realizou a primeira aproximação com a empresa Mercur até que, em 2016 ambas as organizações se tornaram membros da rede. “Em todas as negociações, a gente abria a planilha de custos e os seringueiros colocavam qual era o valor que eles precisavam ganhar para valer a pena ir para a mata retirar o látex”, conta Clara Baitello, gestora comercial da Rede Terra do Meio.
Além das negociações para melhorar as condições de pagamento, houve um trabalho conjunto de restauração da cultura extrativista para os jovens do território e de aprimoramento do produto, com valores de qualidade agregados ao serviço de extração. Esse movimento atraiu mais produtores para participar da rede. Em 2023, a operação do Projeto Borracha Nativa se expandiu para o território Tupi Guaporé,  nas Terras Indígenas Igarapé Lourdes, Rio Branco, Sete de Setembro e Uru-Eu-Wau-Wau, influenciando positivamente na retomada local da cadeia da borracha extrativista. Neste ano, a Mercur lançou a primeira borracha escolar feita com látex 100% da Amazônia. “Foi uma experiência muito positiva, e a gente tem avaliado que, cada vez mais, o beneficiamento associado ao pagamento justo pela produção tem incentivado os jovens na comunidade”, completou Clara.
O comitê celebrou as conquistas do ano, entre elas as negociações fechadas, os novos recursos para fortalecimento das cadeias produtivas, os projetos de fortalecimento das associações, aumento de produtores interessados na economia da sociobiodiversidade, a chegada no  novo território Calha do Purus, e resistência e resiliência dos povos, que vivem o enfrentamento das crises dos incêndios nos territórios e a seca.
“A gente segue resistente, resiliente e com apoio. Temos o que conservar, o que preservar. Não é só o físico, não é só a floresta, não é só o rio, mas são as memórias, são as histórias. É a nossa ancestralidade que a gente busca manter e proteger. Nós perdemos mais de 30% da nossa vegetação, e tudo ficou mais longe, tanto para a caça, para a roça, quanto para a coleta do Cumaru. A gente vai trabalhar no reflorestamento, em produzir mudas de Cumaru para ficar mais próximo da aldeia. Tudo isso também é uma aprendizagem para a nossa organização”, relatou Mayalú, do Instituto Raoni.
“Fazer uma única reunião envolvendo todos os 6 Comitês Territoriais, que antes se encontravam separadamente, foi importante para ampliar as trocas entre os membros e as organizações de base que fazem parte da rede. Muitos desafios são semelhantes,e propiciar troca entre os diversos territórios contribui para que soluções encontradas por algumas organizações sejam compartilhadas e disseminadas, otimizando resultados. Saímos dessa reunião com várias conexões feitas entre os territórios, organizações que atuam com óleos e manteigas vegetais, se encontrarão para falar dos desafios das cadeias, produtores de castanha estão em contato para pensarem como melhorar os processos de boas práticas e de beneficiamento externo. Só para elencar algumas das iniciativas que já estão em andamento após a reunião” Relatou Patricia Machado, Coordenadora de Articulação Territorial da rede Origens Brasil® no Imaflora.
Origens Brasil é uma rede diversa, composta por povos indígenas, populações tradicionais, instituições de apoio, organizações comunitárias e empresas. Juntos, atuamos para fortalecer uma nova forma de fazer negócios na Amazônia, conectando empresas, produtores e produtoras em Terras Indígenas e Unidades de Conservação por meio de relações comerciais éticas, com transparência, garantia de origem e rastreabilidade.
Para saber mais, acesse www.origensbrasil.org