Brasil não tem segurança jurídica para investimentos sustentáveis

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(Foto: Pixabay)

A falta de um marco legal ambiental e de um mercado definido para o carbono causam uma percepção negativa nos investidores, afirmou o diretor da empresa Agrosuisse e conselheiro do Organis, Fábio Ramos, durante painel no Green Rio.

“O carbono é o maior desafio porque o mercado financeiro de investimento internacional está pautado nos próximos investimentos pelo valor do carbono. Então, o Brasil está atrás nisso, porque nós não temos um marco legal que defina esse valor do carbono de forma objetiva. Nós temos um mercado voluntário, temos muita discussão. Mas o Brasil não tem uma segurança jurídica para isso”, analisou.

Para Ramos, o grande desafio é compatibilizar o investimento do capital com o meio ambiente. “Temos essa lacuna a ser preenchida. Não por falta de conhecimento técnico-científico. Mas por falta de uma legislação que nos garanta que os investidores tenham essa segurança”.

O diretor da Agrosuisse apontou quatro fatores que influenciam o ambiente de investimentos atual:

Não pensar na cadeia do alimento: o investimento deve olhar a cadeia como um todo e não somente na rentabilidade, na visão de seis meses de plantio de grãos. Na bioeconomia, é preciso olhar para toda a cadeia – da produção ao processamento e ao consumo. Caso contrário, há uma lacuna. A visão da cadeia é um fator fundamental.

Legislação: O Brasil ainda tem uma legislação ambiental insegura para o investidor. “Temos que evoluir para uma nova economia agrícola e sustentável. Nós não temos na nossa legislação agrícola uma consistência para uma nova economia. Os bioinsumos de baixo impacto e que deverá ser um insumo de baixo custo. A legislação vai proteger isso ou ela pode caminhar para que esse bioinsumo tem um custo muito alto para o produtor”, disse Ramos.

Ter uma visão de planejamento estratégico: o Brasil precisa ter uma visão de médio a longo prazo. Segundo Ramos, é difícil convencer os investidores que o capital tem que entrar durante um período de tempo que pode ser longo.

Garantia da qualidade do produto final: Adotar um processo de certificação para garantir a qualidade do produto final de uma cadeia. “Isso tem um custo que precisa ser incorporado na planilha de investimento”.

Apesar dos desafios, Fabio Ramos se mostrou otimista sobre o caminho da bioeconomia e ressaltou que a percepção do consumidor sobre o meio ambiente ser agregado no valor do produto é essencial para mudar o mercado.

No caso do setor de orgânicos, por exemplo, há o paradigma de que estes alimentos são caros. “Ele é caro porque o consumidor não entende que o valor ambiental tem que estar intrínseco a este produto. Enquanto a soja e o milho transgênico não tem esse valor intrínseco, pelo contrário. Muitas vezes ele deixou um passivo ambiental”.

“Eu acredito ainda muito no Brasil. Nós ainda não vimos, como nação, que o Brasil tem uma prioridade de desenvolvimento agropecuário, agroindustrial e ambiental. Isso é o sonho de consumo de ter um país voltado para as suas aptidões”, concluiu.