A pandemia de Covid-19 tem alterado as megatendências para os sistemas alimentares. São possíveis tendências surgidas durante a crise sanitária que poderão influenciar o desenvolvimento dos setores de consumo. É o que afirma o estudo “Segurança alimentar pós-Covid-19: megatendências dos sistemas alimentares globais”, elaborado pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Embrapa.
O estudo aponta que o ritmo de implantação de tecnologias, como internet das coisas (IoT), automação e robótica, inteligência artificial e aplicativos digitais acelerou e já são uma realidade na produção agrícola. Destacam-se ainda a busca crescente por produtos orgânicos, o aumento nos gastos com proteínas alternativas e o interesse do consumidor por vitaminas e suplementos alimentares.
O aumento do uso de aplicativos para entregar alimentos preparados, o surgimento de plataformas de comércio eletrônico para facilitar as transações entre agricultores e consumidores finais tende a revolucionar os segmentos de logísticas e marketing, fruto do isolamento social e dos novos padrões sanitários.
Por outro lado, a demanda por alimentos chamados “premium”, mais sofisticados, deverá sofrer forte diminuição devido a fatores como desaceleração econômica global, aumento do desemprego, diminuição da renda per capita e novos hábitos de consumo, em decorrência dos inúmeros fatores pós-pandemia.
“O lockdown e o distanciamento social contribuíram para vários choques simultâneos em todo o sistema alimentar global. Alguns governos fecharam pontos de venda formais e informais de alimentos e restringiram severamente a movimentação de cidadãos, enquanto a produção e o processamento de alimentos, transporte, comércio e varejo foram profundamente afetados”, explica o pesquisador Mário Seixas.
O estudo aponta quatro megatendências:
Interface saúde humana, tecnologias e sistemas alimentares: bioeconomia, biotecnologia, recursos genéticos e hiperconectividade são essenciais na aceleração da agricultura de precisão, com os consequentes aumentos de produtividade, economias de escala e readequação do uso da mão de obra, são alguns fatores que influenciarão a agricultura e os sistemas alimentares.
Seixas afirma que os avanços científicos e a melhoria nos padrões de vida contribuem para aumentar a longevidade das pessoas. Entretanto obesidade, desnutrição, resistência a doenças, bactérias e micróbios acarretarão crescentes pressões para o aprofundamento do conhecimento da saúde humana.
Inovações tecnológicas
Os avanços em genética, nanotecnologia, automação, robótica, inteligência artificial e outras tecnologias emergentes estão acelerando. A hiperconectividade, a internet das coisas, a realidade aumentada e os sistemas de inteligência coletiva, combinados com a redução dos custos de implementação de novas tecnologias, estão transformando sistemas inteiros de produção, gerenciamento e governança.
Sob o ponto de vista do consumo, a legalização e a aceitação de alimentos GM podem contribuir para a segurança alimentar, já que há concordância científica de que alimentos derivados de culturas GM não representam maior risco para a saúde humana. No entanto, consumidores mais jovens serão mais críticos quanto ao consumo desses alimentos.
Comércio eletrônico e aplicativos
O estudo identificou três desenvolvimentos importantes para os próximos 30 anos: drones, veículos autônomos e restaurantes dedicados à entrega de produtos finalizados, por aplicativos, não abertos ao público. Apesar dos avanços tecnológicos e da preocupação com a segurança alimentar, as mudanças climáticas e a degradação ambiental permanecem como uma forte megatendência.
Agtechs
O estudo identificou forte presença das agtechs nos próximos anos, como base para a inovação e evolução da produção agrícola. Estima-se que os principais avanços venham das novas tecnologias de automação e robótica, da hiperconectividade e do acesso à internet, das novas tecnologias empregadas no melhoramento vegetal e animal, sistemas mais avançados de gestão de recursos e uma melhor compreensão da relação alimentos-consumo-saúde humana.