
A sexta-feira foi de muita apreensão e procura de explicações para justificar o rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco. O acidente foi ontem, quinta (5), por volta das 16h após dois abalos sísmicos, considerados fracos e normais na região. Primeiro foi a barragem do Fundão e depois a barragem de Santarém.
No dia repleto de entrevistas coletivas, o resumo das declarações mostram que há muito trabalho pela frente no já considerado pior acidente do estado de Minas Gerais.
Balanço
– 1 morto, 13 funcionários da Samarco estão desaparecidos (trabalhavam no Fundão), 500 foram resgatados, centenas estão no abrigo do ginásio de Mariana
– a Samarco afirmou em nota que 253 pessoas, de 70 famílias, foram alocadas pela empresa em hotéis e pousadas da região. Ao todo, ainda de acordo com a nota, 600 kits de emergência, com colchões, lençóis e toalhas, 3.800 lanches e refeições e 10 mil garrafas de água já foram distribuídos.
– As barragens de Fundão e Santarém, da mineradora Samarco, liberaram, ao todo, 62 milhões de metros cúbicos de água e rejeitos de mineração no rompimento desta quinta-feira. A de Santarém estava no limite da sua capacidade, 7 milhões de metros cúbicos. A de Fundão estava com 55 milhões de metros cúbicos dos 60 milhões de metros cúbicos da capacidade total.
Samarco
Presidente fez comentário pelas mídias sociais e afirmou, em entrevista coletiva, que empresa vai arcar com todas as despesas dos desabrigados. http://g1.globo.com/minas-gerais/ao-vivo/2015/barragem-se-rompe-em-mariana.html#/glb-feed-post/563d01bac22d6242958acc77
O engenheiro civil Germano Silva Lopes, da Samarco, confirmou durante a entrevista coletiva que, no momento do rompimento, a barragem de Fundão passava por uma obra de alteamento, que é a subida da barragem. Apesar da obra, o engenheiro disse que não é possível afirmar a causa do rompimento.
A empresa se comprometeu a arcar com as despesas dos desabrigados.
A Samarco possui licença de operação com validade até 29 de outubro de 2019
A Vale informou, por meio de nota, que “lamenta profundamente” o acidente, e “solidariza-se com os empregados, suas famílias e as comunidades atingidas”. A Samarco é uma joint venture da Vale com uma afiliada da australiana BHP Billiton.
Danos Ambientais
– Apesar da classificação no mais alto risco de dano ambiental, o empreendimento teve a condição de estabilidade assegurada por auditor da Feam.
– Em 12 horas, a enchente de lama lançada na barragem do Fundão, em Mariana, na região central de Minas, percorreu quase 100 km e atingiu o município de Rio Doce. Ao alagar uma fazenda e provocar a morte de milhares de peixes, a lama tóxica atingiu o rio Carmo, no encontro com o rio Piranga – ponto de formação do rio Doce, um dos mais importantes de Minas
– O desastre ecológico é ainda incalculável. Milhares de peixes mortos, quilômetros de matas ciliares destruídos, lama fétida e outras tantas toneladas de madeira boiando entre os pilares
– Segundo alerta do CPRM (Serviço Geológico do Brasil), os rejeitos devem atingir 12 cidades de Minas e três do Espírito Santo até terça-feira (10): Ponte Nova, Nova Era, Antônio Dias, Coronel Fabriciano, Timóteo, Ipatinga, Governador Valadares, Tumiritinga, Resplendor, Galiléia, Conselheiro Pena e Aimorés, em Minas; e Baixo Guandu, Colatina e Linhares, no Espírito Santo.
– O especialista em análise de risco e analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Ibama em Minas Gerais, André Naime, disse que ainda é cedo para estimar o impacto ambiental do desastre na região, pois até o momento não se tem o conhecimento preciso da composição química do rejeito.
– O vazamento acarretou soterramento de vegetação, áreas de mananciais e carreamento de sedimentos e assoreamento de corpos hídricos, além dos prejuízos às populações afetadas, impactos evidentes até mesmo pelas imagens
– possíveis impactos nos lençóis freáticos da região, de onde é retirada água para abastecimento da população de Belo Horizonte, só caso exista algum contaminante solúvel ou solubilizados a água no rejeito é possível haver a contaminação dos lençóis.
Administração Pública
– O prefeito de Mariana, Duarte Júnior, disse em entrevista coletiva que são cinco distritos foram atingidos: Águas Claras, Ponte do Grama, Bento Rodrigues, Paracatu, Pedras. A cidade de Barra Longa, a 70 quilômetros de Bento Rodrigues, também foi atingida pela lama. Hospital de campanha foi improvisado para receber quem teve contato com a lama.
– O governador de MG, Fernando Pimentel, sobrevoou a região, esteve com os desabrigados e reconheceu o estado de emergência decretado pela prefeitura de Mariana
– Dilma Rousseff convocou uma reunião com ministros no Palácio da Alvorada para discutir, entre outros temas, o posicionamento do governo diante da tragédia em Mariana. Ela determinou que sejam apuradas “com rigor” as causas do rompimento de duas barragens em Bento Rodrigues, no distrito de Mariana (MG), e as responsabilidades pelo incidente.
Promotoria de Justiça
– O promotor de Justiça e coordenador do Núcleo de Combate a Crimes Ambientais do Ministério Público Estadual, Carlos Eduardo Ferreira Pinto, disse em entrevista coletiva em Belo Horizonte que o MP trabalha com a hipótese de descumprimento de norma técnica como causa do rompimento das barragens. ‘É o pior dano ambiental do estado de que se tem notícia’, caracterizou.
– Ministério Público vai pedir a suspensão da licença da Samarco na segunda-feira, dentro do inquérito civil, recomendando à Secretaria de Estado que suspenda a licença do empreendimento como um todo até que se apure a regularidade e garanta a segurança das comunidades. O Núcleo de Combate a Crimes Ambientais e do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais do MP, quer saber se houve descumprimento de normas técnicas de segurança durante as obras de expansão da barragem Fundão, a primeira a se romper.
Patrimônio Cultural
– O promotor de patrimônio cultural, Marcos Paulo de Souza, disse que os danos do rompimento são ‘incalculáveis’ porque o distrito de Bento Rodrigues é um dos mais antigos do estado. Ele explicou que no local existem imóveis dos séculos XVII e XVIII.
Repercussão Internacional
El País –
http://internacional.elpais.com/internacional/2015/11/05/actualidad/1446760230_611130.html
The Guardian – http://www.theguardian.com/world/2015/nov/05/brazil-iron-mine-dam-bursts-floods-nearby-homes
The New Yorlk Times –
Deutsche Welle (DW) – http://www.dw.com/pt/as-poss%C3%ADveis-causas-do-desastre-em-minas-gerais/a-18833489